sábado, 27 de setembro de 2014

PRONTA

Tento adivinhar o teu toque.
Busco ouvir tua respiração
Perto, muito perto da minha nuca.
Teu calor, em ondas, 
Quero sentir no arrepio da minha pele.
O sabor do teu corpo
Imagino saber com detalhes
De gourmet.
Estou pronta viste?
Só falta chegares.
Te espero.
Vem.

domingo, 21 de setembro de 2014

PONTO

Com um sopro
Desvendou os olhos.
Os cílios encarregaram-se
De desfazer o resto.
Viveu para a cor,
Para o som,
Para sensações.
Plena, flutuou na graça
Das antigas novidades
Irradiando curiosos arrepios.
Ela havia chegado para ocupar
O lugar que jamais imaginara lhe pertencer,
Mas que ao vê-la,
Imediatamente encaixou-se nos seus contornos.
Ele, um misto de surpresa e encanto,
Espantou as antigas dúvidas
E aquiesceu à certeza
Que, de fato, sempre soube:
No dia da chegada
Não existiriam mais partidas.
Entregou-se sem medos
Ao ponto final.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

LUTA

Mergulhou na atmosfera noir
Dos corpos nus.
Percorreu o ambiente pegajoso do suor
Gerado pelo pouco espaço
Enquanto mãos e pernas se cruzavam.
Sentia cabelos e pêlos
Com ojeriza.
Irrespirável.
Queria acordar, mas resistia.
A sensação frenética opoē-se
À razão estética e vence.
Sorri no desespero,
Ainda bem.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

RACHADURAS

O vidro rachado da porta
Permitia que as lembranças
Voltassem fortes.
A última vez foi perdida,
Sabia disso,
Deu as costas e seguiu
Na direção oposta.
De lá, nenhuma rachadura teria 
Mais importância.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ERROS

Erro.
Hoje, ontem ou amanhã,
Erro, errei, errarei.
O erro é uma das coisas certas da vida.
A cada tropeço,
Caio, choro, sofro escoriações.
Continuo errando,
Não aprendo o que não se pode aprender.
Não aprendo o que não quero aprender.
Não aprendo o que não vale aprender.
Vivo.


domingo, 14 de setembro de 2014

PROPAGANDA

Garganta trancada,
Vontade de chorar,
Depressão chegando?
Sol, mar e céu azul,
Eficaz para todos os males.
Experimenta!

sábado, 13 de setembro de 2014

METAMORFOSES

Reflito.
Penso.
Relembro.
Examino.
Pondero.
Concluo.
O início
Insiste em começar.
Reflito
Pen
Relemb
Exa
Po
C...

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

PARTIDA

Com o sol nos pêlos,
Floresceu no final da primavera.
A graça tomou conta dos seus gestos,
O vento, de seus longos cabelos
E a lua, da sua mente.
Nascera, finalmente.
Deveria se apressar,
O oceano é largo
E não sabia precisar com exatidão
Quantos passos a distanciavam dele...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

GUERRA

A palidez deu lugar à cor.
Era enfática,
Gostava do destaque.
E, assim, vibrando nos tons fortes,
Iniciou o percurso.
Aquele seria um dia difícil,
Mas de imprescindível enfrentamento.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

FELICIDADE

Ao ver teu cheiro, sorri.
Ao sentir teus olhos, cedi.
Ao ouvir teu toque...
Bem, ao ouvir teu toque,
Morri!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

PAPEIS

Do jorro nasceu a vida
Que correu insandecidamente
Pelos estreitos corredores
Úmidos e escorregadios.
Alojou-se no aconchego
Da sua metade
E lá ficou.
Esperou, esperou 
E se fez completo.
Como obra acabada 
Adentrou no mundo.
Encantou, cresceu, viveu,
Morreu.
Morreu no exato momento
Em que, cansado do velho papel,
Idealizava uma nova estreia
Para breve,
Muito breve.

sábado, 6 de setembro de 2014

FANTASMA

Entendeu-se em solidão.
Buscou a forma mais harmoniosa,
Meticulosamente planejada,
E ocupou o centro da sala
Em sua cadeira de alto espaldar.
Mãos no colo,
Cabelos alinhados,
Vestido impecável,
Olhar vago.
O processo foi lento.
Ao final, já como retrato
Em preto e branco,
Foi descoberta pelos olhos curiosos,
Jazendo no chão do ambiente.
Recolhida com cuidado,
Foi encerrada nas quatro arestas
Do pequeno quadro 
Pendurado na parede.
Seguiu, soberana de si,
A assombrar aqueles que
Teimavam em se julgar
Felizes.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CORAGEM

Perto da escada, pensava.
Tinha dúvidas sobre qual seria
O degrau mais acertado,
Se deveria, ou não, apoiar-se
No corrimão,
Se a subida deveria ser rápida 
Ou vagarosa.
Observava todos
Que por ela passavam rumo ao topo.
Nenhum lhe parecia de todo correto.
Um, muito lento, acabava sentando-se,
Desanimado com a distância que
Ainda restava percorrer.
Outro, muito impaciente, 
Atropelava os degraus, caindo sempre,
Mas seguia no intento.
Mais outro que, com passadas tão firmes,
Acabava por romper os degraus,
O que o levava a refletir se seria para ele
Essa dura tarefa.
Perto da escada, pensava,
Sem se importar com a vida escoando
No entorno.
Perto da escada, pensava,
Atordoando o resto de coragem
Que insistia em habitar seu coração.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

TRAJETÓRIA

Fio a fio
Teceu seu ideal.
Cobriu-se com ele
E saiu espanando as teias
Iludidas do seu poder
De embaraço.
Foi vista, pela última vez,
Cruzando a barreira da luz
Linda!
Em pleno uso do raro poder
Conferido apenas aos escolhidos,
Obstinados e teimosos,
Senhores de si.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

FOI

Decidiu ver o mundo de ponta cabeça.
Deitou na grama erguendo os pés ao alto.
Calçou as pantufas de nuvem e começou a andar.
Deslizou pelo céu recolhendo os perfumes da terra.
Cobriu os cabelos de mar adornando-os
Com as mais coloridas flores.
Refrescou o corpo com a brisa vital da primavera.
Pisou no sol e tropeçou na lua.
Seguiu o caminho das estrelas
Rumo ao infinito.
Foi feliz.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

RECOMEÇADOS

As luzes corriam na beira da estrada.
Emoções ganhavam distância.
Sonhos, esquecimentos.
Nós...